Uma em cada cinco pessoas no mundo se sente sozinha no trabalho. Estudos mostram que conexões fazem bem para a saúde, individual e dos negócios
Seus colegas de trabalho nem sempre serão seus amigos. Mas se forem, isso será positivo para a saúde, bem-estar e satisfação de todos – e até para os resultados da empresa. É o que mostra um estudo da KPMG de novembro de 2024, que ouviu 1.000 profissionais para entender suas perspectivas sobre amizades no trabalho.
Ao mesmo tempo, um relatório global da Gallup publicado no mesmo ano revela que um em cada cinco funcionários no mundo se sente sozinho no trabalho. Outro estudo, também da Gallup, indica que profissionais que têm amizades no ambiente profissional são até sete vezes mais engajados. “As conexões humanas são chave para a nossa felicidade, mas também para o sucesso dos negócios”, diz Renata Rivetti, CEO da Reconnect Happiness at Work – e essa visão é corroborada por diferentes estudos.
O tema chamou a atenção durante o SXSW (South by Southwest), um dos maiores eventos de inovação, tecnologia e cultura do mundo. “A importância das relações foi um dos temas bastante presentes no SXSW 2025, e as conexões no ambiente profissional estiveram em vários dos palcos”, diz Renata, que acompanhou o evento em Austin no mês de março.
Isso não é à toa: estamos vivendo uma epidemia de burnout e transtornos mentais no ambiente de trabalho, que tem consequências para a saúde e para as carreiras de profissionais – especialmente das mulheres – e custa caro às empresas. Em 2024, o Brasil teve o maior número de afastamentos por transtornos mentais em 10 anos. Foram 472 mil licenças concedidas, um aumento de aproximadamente 67% em relação ao ano anterior, segundo dados do Ministério de Previdência Social.
As perdas de produtividade relacionadas à saúde custam quase R$ 3 trilhões aos empregadores, segundo uma pesquisa publicada na revista científica Journal of Occupational and Environmental Medicine. No Brasil, a partir de 26 de maio, as empresas serão obrigadas a identificar riscos psicossociais e implementar medidas para gerenciar a saúde mental dos profissionais.
Saúde social para o bem-estar pessoal e dos negócios
Uma força de trabalho saudável gera menos custos com saúde e maior produtividade. Além disso, muitos estudos ligam a saúde e o bem-estar dos funcionários a métricas de negócios.
Renata Rivetti cita a palestra de Kasley Killam, especialista em conexões humanas e autora do livro “The Art and the Science of Connection” (A Arte e a Ciência da Conexão, em tradução livre), no SXSW, que apresentou o conceito de “saúde social”.
Tão importante quanto a saúde física ou mental, a saúde social está relacionada à qualidade das nossas conexões e interações com as pessoas. “A saúde social afeta o ambiente de trabalho e é fundamental para a produtividade, inovação e retenção de talentos”, explica Renata. “A conexão entre colegas não é um bônus, mas um fator importante para o sucesso organizacional.”
O contrário também é verdadeiro. “Times desconectados são menos produtivos, menos colaborativos e mais propensos ao estresse.”
Trabalho presencial garante conexão?
Isso independe do modelo de trabalho, seja híbrido, totalmente remoto ou presencial. “O modelo presencial não garante a conexão. É preciso intenção para mudar o cenário de distanciamento.”
Especialista em felicidade no trabalho e liderança positiva, Renata compartilha dicas práticas para fortalecer as conexões no ambiente profissional.
Como fazer e manter conexões verdadeiras no trabalho
Rituais
Pequenos momentos de interação diária, como pausas para o café, almoços em grupo ou check-ins semanais, fortalecem laços.
Gestos simples, como perguntar sobre o dia de um colega ou reconhecer contribuições, podem fazer uma grande diferença.
Regra “5-3-1”
Na sua palestra no SXSW, Kasley Killam sugeriu uma abordagem prática para cultivar relações no trabalho:
5 interações sociais por semana com colegas.
3 relações profissionais próximas, como mentor, colega ou líder.
1 hora por semana dedicada a conversas significativas dentro do trabalho.
Cultura de reconhecimento
Reconhecer e valorizar publicamente o trabalho dos colegas impulsiona a motivação.
Pequenos gestos, como um e-mail de agradecimento ou um elogio sincero, fortalecem os laços e contribuem para um ambiente mais positivo.
Fofoca fortalece conexões
Renata cita a palestra de Amy Gallo, especialista em ambiente de trabalho e autora da Harvard Business Review, no SXSW sobre o poder da fofoca no mundo corporativo. “Gallo desmistificou a ideia de que a fofoca é sempre prejudicial e explorou como ela pode ser usada estrategicamente para fortalecer relações, disseminar informações e até impulsionar carreiras.”
Mas é preciso ter alguns cuidados:
Faça fofocas positivas: fale sobre conquistas e qualidades dos colegas em vez de espalhar críticas.
Verifique a fonte antes de compartilhar informações; nada de fake fofoca.
Evite comentários destrutivos ou prejudiciais: se a informação pode causar danos à reputação de alguém, não vale a pena compartilhar.
Aproveitar o ambiente multigeracional
Um painel com Yj Lin, da Dell for Startups, e Thom Singer, do Austin Technology Council, abordou a diversidade etária no ambiente de trabalho. “Diferentes gerações podem colaborar de maneira mais eficaz, mas ainda há ainda desafios para a construção de times inclusivos e colaborativos em relação à diversidade etária”, aponta Renata, citando estilos de comunicação, conflitos de valores e a relação com a tecnologia.
A CEO da Reconnect destaca estratégias para promover a conexão em escritórios e equipes multigeracionais.
Reverse Mentoring: colaboradores mais novos podem ensinar tecnologias e tendências aos mais experientes, enquanto estes podem ajudar no desenvolvimento de competências e carreira.
Criação de grupos de afinidade e programas de integração pode ajudar a eliminar barreiras entre faixas etárias.
Cultura de aprendizado com treinamentos conjuntos para que todos se mantenham atualizados.
FORBES